"Minguantes do Haiti...há desnorte sem meio e sem fim. À vista, ferem os olhos do anonimato que é um pouco de todos nós. Tempestade sem bonança, resta-lhes o pouco que nunca foi muito.
A vida está aos retalhos, os edifícios são túmulos, as pedras um desconsolo. Custa muito sobreviver. A muito custo se unem... as mãos, os braços, a força que teima em contrariar os elementos. Amparo e desespero adjectivam a passagem das horas. Em minutos se esvaem os prolongamentos do caos. É preciso redobrado cuidado com os devaneios da condição humana.
Atenuar a desordem não é tarefa fácil... mas é tarefa. Todos têm uma: acudir, salvar, correr contra o tempo, a adversidade, o sobressalto e o medo.
Muita desta gente é uma sombra do que já foi...muita desta gente é uma sombra do que há-de ser.
A arritmia da terra subtraiu 50 mil almas aos habitantes da capital haitiana. O número assusta mas não assusta mais do que o número que se não conhece. A contabilidade há-de cumprir-se um dia... e não será fácil... porque será excessiva.
Alguém disse um dia, num curto lapso de tempo, que Deus leva para junto dele aqueles de que mais gosta. Pouca consolação esta para quem sente na pele a mais dura das evidências.
Momentos há em que o Homem planeia e Deus ri. Momentos tão efémeros quanto duradouros na memória de quem os vive e de quem os capta."
Reinaldo Serrano - SIC
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